6 de dezembro de 2010

Educação para a Sustentabilidade

O desenvolvimento sustentável representa uma temática recente, polémica e cada vez mais discutida, dadas as suas repercussões económicas, políticas e sociais na nossa sociedade e a influência que tal processo de mudança assume na maneira de pensar, agir e viver dos cidadãos. A comunidade internacional acredita agora profundamente que é necessário fomentar – através da educação – os valores, a conduta e os estilos de vida que se revelam imprescindíveis a um futuro sustentável (versão provisória do Plano Internacional de Implementação da Década da UNESCO. Cit in M.E. & DGIDC, 2006). Após séculos sem nos preocuparmos com tais questões surgiu um instrumento de mobilização, difusão e informação (UNESCO, 2005) crucial ao bom funcionamento de todo este processo: a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, promovida e coordenada pela Unesco com a missão de tornar reais as respostas às necessidades aqui descritas. Conforme reivindica a Unesco, falamos de um conceito dinâmico que compreende uma nova visão de educação e que visa capacitar as pessoas de todas as idades para assumir a responsabilidade de criar e desfrutar de um futuro sustentável (2005). Por outras palavras, um aproveitamento eficaz dos recursos naturais em conjunto com a preservação do meio ambiente, evitando prejudicar o equilíbrio entre o ambiente e a sociedade, implica envolver a comunidade em todo este processo de sensibilização e protecção da biodiversidade e ecossisitemas naturais através de estratégias educativas criativas, inovadoras e adaptadas a todos os públicos, de forma a que qualquer um possa desempenhar um papel activo.

Por estas razões a educação para a sustentabilidade é um dos pilares da educação global assim como enunciado na declaração da educação global de Maastricht (2002). A educação global aqui citada visa precisamente abrir os olhos e as mentes das pessoas para as realidades do mundo, despertando-as para contribuírem para um mundo com mais justiça, equidade e direitos humanos para todos (…) e, nesse sentido abrange a Educação para o Desenvolvimento, a Educação para os Direitos Humanos, a Educação para a Sustentabilidade, a Educação para a Paz e Prevenção de Conflitos e a Educação Intercultural, dimensões globais da Educação para a Cidadania (GEWN & CNS 2010:68). Uma missão que se cruza com as consequências da Cimeira Mundial do Desenvolvimento Sustentável, e das quais destacamos a necessidade, ambiciosa por sinal, de adoptar novas medidas para reforçar os arranjos institucionais para o desenvolvimento sustentável a nível internacional, regional e nacional (Henriques, 2006/2007). Assim sendo, a necessidade de afrontar os temas do desenvolvimento sustentável, a nivel local e global, para reflectir e para educar, trabalha dum lado pela consciencialização acerca dos problemas ambientais globais e, do outro, age paralelamente com a educação para os direitos humanos, educação para o desenvolvimento, promovendo a cidadania e a educação global. O Centro Norte-Sul do Conselho da Europa que, em matéria de educação global é, não só a nível comunitário, uma referência, tem como meta a formação de cidadãos conscientes e a educação de indivíduos intervenientes e divulgadores de uma gestão sustentável – jovens e adultos participativos e envolvidos na mesma causa independentemente da sua identidade cultural.

Um outro ponto de referência neste âmbito é também a Carta da Terra, produzida em 2000 através de um diálogo prolongado entre diferentes povos e culturas, que afirma, com as palavras da sua commisária, também prémio Nobel da paz em 2004, Wangari Maathai, que “Chegou o tempo de reconhecer que o desenvolvimento sustentável, a democracia e a paz são indivisíveis.” (M.E. & DGIDC 2006:20).

Neste cenário e, com o trabalho em rede de todas estas instituições internacionais, a educação para a sustentabilidade visa aumentar o acesso ao ensino básico por todos, por criar espaço onde toda a educação, e por isso também esta, possa ser disponibilizada às pessoas. Para além disso, a educação para a sustentabilidade quer intervir nas instituições e nos programas de ensino de todas as ordens e graus. Um outro nível de acção da educação para a sustentabilidade quer intervir junto dos cidadãos e dos consumidores, para que sejam eles os primeiros intervenientes e os primeiros pressionadores dos governos para a acção neste sentido. Como último objectivo, delineando, tal como os outros, no documento do Unesco para a educação sustentável, existe a vontade de intervir junto dos trabalhadores, para mudar, para além dos hábitos pessoais de vida quotidiana, também as rotinas dos locais de trabalho.

Para tal, as instituições acima citadas sugerem práticas pedagógicas e educativas a ser implementadas nas escolas e em outros estabelecimentos de educação formal. Todavia a educação para a sustentabilidade, assim como outras áreas da educação global, não pode ser abordada esquecendo o importante papel da educação não formal. Aqui o Conselho de Europa e, mais especificamente, o Centro Norte-Sul, têm, no panorama mundial, um papel muito importante na promoção das práticas de educação não formal para a educação para a sustentabilidade e na criação de espaços de partilha entre educadores e instituições nesta área.
Grupo GRUNDTVIG

1 comentário:

  1. Ao ler sobre esta temática , deparei-me com a necessidade de querer perceber mais , relativamente ao que consiste a Educação para o Desenvolvimento Sustentável. E foi com base nesta minha necessidade, que cheguei a encontro de quatro grandes premissas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável que vou partilhar.

    Segundo, (Diretor Geral, UNESCO, ao Permanent Delegations seguindo o WSSD, 30/09/02), as quatro grandes premissas são:
    •Promoção e Melhoria da Educação Básica: o acesso à educação básica ainda é um problema para muitos – especialmente meninas e adultos analfabetos. Aumentar simplesmente a alfabetização básica, como no ensino actual, não desenvolverá significativamente sociedades sustentáveis. Ao contrário, a educação básica deve focar na comunhão de conhecimento, habilidades, valores e perspectivas que encorajem e apóiem os cidadãos a levar vidas sustentáveis.

    •Reorientar a Educação existente em todos os níveis em direção ao Desenvolvimento Sustentável: repensar e revisar a educação desde a creche até a universidade para incluir mais princípios, habilidades, perspectivas e valores relacionados à sustentabilidade em cada uma das três esferas – social, ambiental e económica – é importante para as sociedades actuais e futuras.

    •Desenvolver Entendimento Público e Consciência da Sustentabilidade: avanços na direção de sociedades mais sustentáveis requerem uma população que seja ciente dos objetivos das sociedades sustentáveis e que tenha conhecimento e habilidades para contribuir com esses objetivos. Cidadãos do voto e consumidores informados podem auxiliar comunidades e governos a adotar medidas para a sustentabilidade e caminhar em direção a sociedades mais sustentáveis.

    •Treinamento: todos os sectores trabalhistas podem contribuir para a sustentabilidade local, regional e nacional. O desenvolvimento de programas de treinamento especializado para garantir que todos os sectores tenham o conhecimento e habilidades necessários para realizar seu trabalho de forma sustentável, tem sido identificado como um componente importante para a EDS.

    Gostaria de deixar ainda como sugestão de leitura o Guião de Educação para a Sustentabilidade “Carta da Terra”, cujo link é:
    http://www.dgidc.minedu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/Attachments/125/Guiao_Sustentabilidade.pdf
    *Mafalda Silva*

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